Bandeirantes apura falha após vazamento de dados sobre alunos. O Bandeirantes, tradicional colégio na Zona Sul de São Paulo, investiga o que teria provocado o vazamento de informações sigilosas na rede interna da instituição. A polêmica gerou mal-estar entre pais e professores e terminou com a suspensão de um aluno que divulgou um vídeo com tais conteúdos.
Em entrevista ao G1 na tarde desta quinta-feira (19), o diretor-presidente, Mauro Salles Aguiar, admite que a proteção dos arquivos é competência da instituição. “De alguma maneira houve um erro. Se foi invasão ou não, a responsabilidade pelos dados é do colégio”. Ele explica, porém, que o estudante foi punido por publicar “de forma antiética e irresponsável” as informações e expor os envolvidos.
A polêmica começou no fim de semana, quando a direção do colégio foi procurada por um pai que se queixava do vazamento de comentários a respeito de estudantes. Depois disso, foi constatado que um aluno teve acesso às fichas com anotações feitas pelos professores sobre estudantes entre o período de 2007 e 2012.
A escola ainda não sabe se ele violou o sistema ou se por uma falha técnica o conteúdo ficou disponível na intranet. “Isso não estava aberto ao mundo, estava em um site da comunidade Bandeirantes”, disse Aguiar. “Era preciso entrar no site do colégio, através de login e senha, e só a partir daí que conseguiria encontrar essa pasta que não deveria estar aberta.” Ele acrescentou que uma perícia será feita para verificar se houve invasão do sistema ou falha no compartilhamento de dados.
O diretor explica que desde dezembro de 2014 o colégio passa por uma alteração gradativa na forma de arquivamento de informações. “Estamos mudando o sistema e colocando na mão de professores e orientadores ferramentas muito poderosas, por exemplo a de compartilhar. E há uma forte suspeita de que através do compartilhar a coisa aconteceu.”
Forma pejorativa
Nos dados, alguns alunos foram descritos de forma pejorativa por professores durante reuniões de série. Aguiar reconhece que a postura de alguns educadores foi inadequada, e diz que a escola investe em capacitação para evitar tais comportamentos. “O colégio há muitos anos identifica como algo que precisa ser mudado, precisa ser alterado. Agora, comportamento humano não se altera da noite para o dia, essa é a realidade.”
O diretor ainda afirma que tais descrições são relatadas nas atas por uma questão de política da empresa. “É uma linha da orientação [Departamento de Orientação Pedagógica] do Bandeirantes, eu acho correta, que não deve censurar a fala do professor.”
Aguiar acredita que o conteúdo das atas, se analisados integralmente, depõem a favor, e não contra a instituição. “Para quem acha que para o Bandeirantes o aluno é um só número, ela é o melhor desmentido. Você pega esse material inteiro. Mesmo para essas coisas que chocam. Mas se você olhar, você vai dizer: ‘Caramba, como esse colégio se preocupa com o aluno’.”
O caso
O colégio soube do problema no domingo. Aguiar afirma que no mesmo dia a área de tecnologia da informação da instituição foi acionada e o conteúdo, bloqueado. Na quarta-feira (18), porém, a escola tomou conhecimento de que um aluno do terceiro ano do ensino médio tinha feito um vídeo com uma espécie de passo a passo para acessar tais documentos.
Nas imagens, divulgadas pelo aplicativo WhatsApp, o garoto também expunha anotações feitas pelos professores sobre estudantes. O diretor não nega a responsabilidade da instituição, e afirma que inicialmente a escola não quis encontrar culpados e estabelecer punições.
A mudança de postura ocorreu após a divulgação do vídeo. “Ele postou para o mundo e, inclusive, fala nomes de alunos, de situações, além de o vídeo ser muito agressivo com a escola, com palavrões.”
A escola alega que aplicou inicialmente a medida punitiva máxima, de oito dias, em função da reação do garoto durante uma reunião com a direção. “Foi um alerta para ele de que fez algo extremamente perigoso. Ele estava envolvendo terceiros, podia provocar muito sofrimento, e estava se prejudicando. Só que a reação dele foi extremamente prepotente.”
O Bandeirantes entrou com mandado de segurança solicitando que o Facebook, empresa dona do WhatsApp, retire o vídeo e bloqueie o compartilhamento.
Redução e processo
Nesta quinta-feira (19), a direção da escola se reuniu com 60 alunos, dos quais 42 são colegas de classe do garoto suspenso. Os colegas estavam revoltados com a punição dada ao estudante. Muitos frequentaram as aulas nesta quinta vestidos de preto como forma de protesto.
Após a conversa, a instituição decidiu reduzir a pena previamente estabelecida. “Isso é uma consideração exclusiva aos argumentos dados pelos alunos, colegas dele, com toda a educação, com todo o respeito, como um verdadeiro exemplo de civilidade e cidadania.”
Apesar da mudança no prazo da penalidade, o colégio decidiu acionar a família do estudante judicialmente. Segundo o diretor, o pai do jovem teve uma postura extremamente agressiva, tentou exigir que a punição fosse retirada, e chegou a chamar a instituição de “estúpida”.
A decisão, de acordo com Aguiar, foi tomada após falta de diálogo com a família do estudante. “Agora nós vamos processar, porque o pai veio aqui e nos ofendeu profundamente. A ponto de nos chamar de estúpidos, colocando o filho como um total inocente, [dizendo] que ele tinha até muito orgulho da postura do filho, e nos ofendendo.”
O diretor não sabe se a família também entrará na Justiça contra a instituição. Ele afirma que em nenhum momento o pai afirmou que tiraria o aluno da escola. Aguiar ainda revelou que outras 20 famílias procuraram pelo Departamento de Orientação Educacional após o caso ganhar repercussão na imprensa. “Ninguém me procurou diretamente, mas alguns pais que ficaram preocupados procuraram a Orientação, e está sendo tratado com maior sigilo possível.”
Fonte: G1